Jornalistas solicitados a pautar pela ética
OS jornalistas que cobrem processos eleitorais devem primar pela observação da ética e deontologia profissional, trazendo a público apenas informações que reflectem a verdade e imparcialidade.
O apelo foi feito no seminário regional Sul sobre cobertura mediática de eleições, que decorreu na cidade de Inhambane, juntando, durante dois dias, jornalistas de órgãos de comunicação social públicos e privados das províncias de Maputo, Gaza e Inhambane, numa iniciativa da organização Sekelekane.
A imparcialidade dos jornalistas foi discutida na apresentação do terceiro tema “Actuação dos Media em processos eleitorais e interferência política: questões reais e ideais”, feita por Alexandre Matsimbe, da Rádio Moçambique.
Matsimbe defendeu que em todas as sociedades democráticas, as eleições constituem um momento crucial de promoção da participação dos cidadãos no processo de governação e o profissional de comunicação social é chamado à responsabilidade no domínio dos instrumentos legais.
Afirmou que é através dosMedia que os partidos políticos e os candidatos ganham visibilidade pública e, por conseguinte, montam a sua agenda em função da lógica da programação dos meios de comunicação social.
Segundo o orador, a situação financeira frágil de empresas de comunicação social sujeita os jornalistas ao que favorece os políticos.
Sugeriu que as empresas do ramo se organizem para assegurar a cobertura dos pleitos eleitorais com isenção e capacitar os seus colaboradores para que tenham domínio das ferramentas fundamentais.
“As empresas devem ter dinheiro para colocar os jornalistas livres das boleias, almoços e alojamentos custeados pelos actores políticos”, acrescentou Matsimbe.
Esta tese do jornalista foi sustentada por quase todos os participantes da formação que disseram que a limitação financeira das suas instituições acaba tornando o seu trabalho complicado e em situação de dependência.
Aprofundar conhecimento
sobre a legislação
O PRIMEIRO tema do seminário, intitulado “Legislação eleitoral em Moçambique como mote para um processo eleitoral justo, livre e transparente”, foi apresentado pelo representante da Ordem dos Advogados de Moçambique em Inhambane, Grácio Abdula.
O causídico afirmou que a base das eleições é o processo de votação (o sufrágio universal), sendo que o processo eleitoral é regido por uma série de leis e regulamentos que, entretanto, têm sofrido constantes alterações.
Observou que um dos problemas resultantes das constantes alterações é a incapacidade de alguns conceitos, a exemplo da impugnação prévia previsto na legislação eleitoral, serem devidamente seguidos, o que faz com que as reclamações não sejam vistas com o devido mérito.
“Tudo isso deve-se ao facto de a Lei eleitoral não ser bastante aprofundada pela maioria dos actores. Se o fazem, geralmente tem sido nos anos eleitorais”, disse, acrescentou que poucos sabem como se processa um contencioso eleitoral.
Aconselhou os jornalistas a estudarem estas matérias com profundidade, explorando os conceitos da legislação atinente para evitar desinformação ou confundir, por exemplo, a reclamação com recurso, suspeito com indiciado ou acusado com condenado.
Por seu turno, Nifrai França, do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) em Inhambane, que apresentou o tema “Experiência dos órgãos de gestão eleitoral na sua relação com os meios de comunicação social”, referiu que, muitas vezes, os Media solicitam informação rápida e a todo momento, o que não dá espaço para que a mesma seja prestada com o devido rigor.
“O acesso à informação sobre o processo eleitoral pode torná-lo mais credível. Quanto mais informação for divulgada, os cidadãos ficam predispostos a participar e a exercer os seus direitos de cidadania”, defendeu.