Comprávamos contadores a 120 dólares quando custam 30
A compra de contadores do serviço pré-pago da Electricidade de Moçambique (EDM), durante anos, foi feita a um preço quatro vezes mais alto do que o real. E não foram só contadores.
O Presidente do Conselho de Administração (PCA) da EDM, Mateus Magala, diz que esse tipo de compras ao dobro, triplo ou quadruplo do preço se estendeu do papel higiénico ao chá, café, biscoitos, ferramentas e restantes equipamentos de grande dimensão que ali se usam.
Em entrevista exclusiva que nos concedeu na sede do distrito de Mocuba, na Zambézia, local que acolheu a cerimónia de lançamento da Central Solar de Mocuba, Mateus Magala desvenda o que se passava nos processos de procurement que tinham sido adoptados e que só viabilizavam a retirada de valores da empresa.
“Por isso decidimos mudar os métodos e, doravante, vamos comprar directamente nos fabricantes que nos podem vender melhores contadores a 20 dólares cada”, afirma e acrescenta que “os fabricantes vão fornecer um milhão de contadores ainda este ano”.
Mas as mudanças não se ficam por aqui. Mateus Magala diz que as contas da empresa foram refeitas e, em dois anos de mandato, foi possível resolver um problema “histórico” da EDM, que era a dívida relativa ao fornecimento de energia pela Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), que totalizava 118 milhões de dólares. “Temos a alegria de dizer que nestes dois anos pagámos 104 milhões e só falta saldar os remanescentes 14 milhões”.
Porém, a felicidade que brota por este resultado é parcialmente chamuscada pelo facto de haver muitas instituições do Estado que consomem energia eléctrica e não pagam. “É assustador. Não posso indicar que esta entidade deve mais que aquela, mas o valor aproxima-se aos 50 milhões de dólares”.
Na conversa com Mateus Magala também abordámos vários outros temas como os esforços que visam reduzir as perdas técnicas e comerciais da empresa, a conclusão do processo de electrificação das sedes distritais, entre outros, cujos principais excertos transcrevemos a seguir.
A EDM queixa-se muito da extensão das linhas de transporte que contribuem para a ocorrência de perdas de energia. Sabemos que se está a pensar em reverter esse cenário. Como vão fazer?
Na verdade a redução de perdas não é só porque as linhas são longas. É mais do que isso. É um problema estrutural. Começa com a própria infra-estrutura que não é adequada.
Explique-se…
Por exemplo, estamos a fazer um programa para ligar todos os distritos. Tivemos de construir linhas longas de 33kilovolt (kV) quando essa potência não é adequada para 100, 200 ou mais quilómetros.
Qual seria a potência recomendada?
Deviam ser 66 ou 110kV. Mas tivemos isso e a qualidade da corrente que chega ao destino pretendido é muito pobre porque há perdas técnicas. Deixe ressalvar que as perdas têm duas dimensões.
Quais?Temos as perdas técnicas e comerciais. As técnicas são baseadas nas tecnologias que se usam e na natureza, na física, porque um condutor (cabo) para levar corrente para um determinado destino sofre calor e atrito, e algum desse calor evapora no troço e quanto maior for a distância, maior será a perda.
Se esses factores eram conhecidos porque se optou por linhas de 33kV?
Bom… o Programa do Governo… no mandato passado olhava-se para a electrificação do país como um todo. Era isso que se desejava. A partir daí, o procedimento que se usou foi de electrificar todos os distritos, depois todos os postos administrativos e, fazendo isso, possivelmente iríamos cobrir a maior parte da população.
Mas o nosso país é muito vasto…
É vasto e temos a população dispersa. Para cobrirmos essa distância precisamos de muito investimento. Mas eram opções que o Governo tinha. Ou fazia tudo bem com uma velocidade menor, ou atingia uma maior velocidade sabendo que há-de haver alguns desfasamentos.