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Isaura Nyusi comprometida no combate ao cacncro

02/08/2016 08:10
Isaura Nyusi comprometida no combate ao cacncro

O cancro, uma doença intransmissível que, nos últimos anos, está a matar milhares de pessoas em várias partes do mundo, particularmente em África, deve ser encarado com todo o empenho e determinação por todos os países africanos, incluindo Moçambique, com vista a minimizar os seus efeitos no continente. 

Preocupada pelos crescentes índices do cancro do colo do útero, da mama e da próstata, em países africanos, a 10ª Conferência do Fórum das Primeiras Damas de África, realizada recentemente em Adis-Abeba, capital da Etiópia, recomendou a tomada de acções mais realistas e consistentes no combate à endemia.
Discursando no encontro, que reuniu representantes de governos africanos, do sector privado e da sociedade civil e especialistas ligados ao sector da saúde, a Primeira-dama de Moçambique, Isaura Ferrão Nyusi, manifestou a sua preocupação com a prevalência do cancro no país. Projecções das autoridades sanitárias indicam que, até ao ano de 2025, pelo menos 3.509 mulheres morrerão da doença, num universo de 5 409 novos casos.
Como mãe e membro da sociedade, a esposa do Presidente da República, Filipe Nyusi, reafirmou o seu compromisso de levar avante acções que visam prevenir que mulheres, crianças ou homens morram da endemia, nos próximos anos.
Entretanto, espelhando até que ponto a situação é deveras preocupante para os moçambicanos, a Direcção Nacional de Saúde Pública revelou que em cada 100 novos casos de todos os cancros diagnosticados no país, pelo menos oito são da mama. 
Como consequência foram registados 512 óbitos, de um total de 945 novos casos de cancro da mama diagnosticados, em 2008, em várias regiões do país.
Estes dados mostram que, em cada 100 mulheres com o cancro da mama, o mais frequente em Moçambique, cerca de 54 delas morrem por esta doença, devido ao diagnóstico tardio. 
Por outro lado, a Direcção Nacional da Saúde Pública referiu que, relativamente ao cancro do colo do útero, o cenário é também preocupante no país. Estatísticas indicam que em cada 100 novos casos pelo menos 32 de todos os cancros da mulher são os do colo do útero. 
Em Moçambique, o cancro uterino mata 64 pessoas em cada 100 mulheres padecendo desta doença, o que significa que 2.356 mulheres perdem a vida, de um total de 3.690 casos diagnosticados anualmente. 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), Moçambique está em segundo lugar, numa lista de 22 países com maior prevalência do cancro do útero no mundo. O Hospital Central de Maputo, a maior unidade sanitária do país, regista anualmente uma média de 3.690 casos de cancro do colo do útero, que causa a morte de pelo menos 2.350 pessoas.
Para reverter a situação, que enluta milhares de famílias moçambicanas, Isaura Nyusi reiterou que vai prosseguir os seus esforços de combate à doença, para que nos próximos anos nenhuma mulher, criança ou homem morra desta doença devido a falta de acesso a informação, prevenção ou tratamento de pacientes do cancro.
Falando para mais de 1.000 delegados, no centro de conferências da UA, a esposa do Chefe de Estado moçambicano afirmou que o seu gabinete tem-se empenhado em acções visando a criação de um ambiente político favorável à prevenção, diagnóstico precoce e tratamento da doença.
Como resultado, regista-se um aumento significativo do número de unidades sanitárias equipadas com serviços de rastreio do cancro do colo do útero e da mama, em várias zonas do país. 
Até ao mês de Junho do ano em curso, o país contava com 156 unidades sanitárias dotadas de capacidade de rastreio do cancro do colo do útero, contra 34 existentes em 2010, a escala nacional.
Paralelamente, Moçambique introduziu, em 2014, o programa piloto da Vacina do Papiloma vírus Humano (HPV) em três distritos, nas regiões norte, centro e sul do país. Este programa, segundo Isaura Nyusi, envolveu um total de 5.877 mulheres, num universo de 8.556, que correspondente a 69 por cento. 
Referiu que para testar o nível de consciencialização e aceitabilidade da vacina contra o HPV, o projecto alcançou, somente no ano passado, um total de 4 849 mulheres, uma cifra que corresponde a 53,1 por cento de um universo de 9.135 pessoas.
No período compreendido entre 2012 e 2015, de acordo com a Primeira-dama, houve uma subida substancial no número do grupo alvo de mulheres rastreadas, que passou de 59.594 para 108.804, respectivamente.
Apesar destes resultados encorajadores, o Gabinete da Primeira-dama vai prosseguir com os seus esforços visando fazer diferenças nos próximos anos. 
Outro desafio que Moçambique enfrenta é a difusão de mensagens em línguas locais sobre o cancro e promoção de campanhas de combate ao estigma e discriminação de pacientes desta endemia, que ameaça o crescimento social e económico de Moçambique.
É neste contexto que o Gabinete da Primeira-dama tem vindo a promover campanhas periódicas de prevenção, tratamento e combate à enfermidade, sensibilização sobre o cancro às mulheres reclusas na cadeia de Dlavela, nos arredores da cidade de Maputo, a capital moçambicana.
Destaque ainda vai para a realização, em Maio último, na capital moçambicana, do primeiro congresso e segunda conferência internacional sobre o cancro, da Organização Africana de Pesquisa e Treino em Cancro dos Países Africanos da Língua Oficial Portuguesa (PALOPs), subordinado ao lema “O Cancro é um Problema de Saúde Pública em Moçambique, seu controle deve ser Priorizado”. 
Estas realizações visam reduzir a prevalência da doença no país, onde, segundo dados avançados pela Direcção Nacional da Saúde Pública, pelo menos 3.509 mulheres poderão perder a vida em 2025, de um total de 5.408 novos casos de cancro do colo do útero.
Sob o lema “Uma Década de Realizações, Nossos Legados Duradoiros e Desafios Futuros”, a conferência de Adis-Abeba foi uma oportunidade para reflexão e partilha de ideias para a redução do impacto da doença no continente. 
Por isso, o Primeiro-Ministro etíope, Hailemariam Desalegn, deixou claro que a luta contra esta endemia não deve ser feita de forma isolada, pois o seu impacto torna-se assustador para todos os países do continente.
Desalegn afirmou que o cancro, cujos impactos são cada vez mais assustadores nos países africanos, incluindo Moçambique, é um desafio que exige vontade política, estreita cooperação, parcerias e acções concertadas por todos, no continente.
“Esta doença não pode adiar o nosso futuro”, frisou, para de seguida afirmar que avaliando o que o continente tem vindo a fazer, nos últimos anos, tudo indica que os países africanos podem construir o seu futuro.
Desalegn disse que se o continente quiser vencer esta luta, os africanos deverão levantar-se e trabalhar, lado a lado, nos programas de prevenção e de intervenção, através da disseminação da informação sobre a doença, com vista a permitir que as populações das zonas rurais também tenham acesso ao seu tratamento. 
O chefe do governo etíope considerou, por outro lado, como urgente a mobilização de recursos e criação de parcerias nacionais, regionais e internacionais, para que o combate à doença se torne uma realidade em África. 
Anotou, porém, que a abordagem do problema do cancro deverá continuar a ser multidisciplinar, para a busca de estratégias tendentes a fortalecer programas e iniciativas em curso em países africanos e mobilização de investimentos a ser canalizados ao sector da saúde pública. 
Entretanto, a presidente cessante do Fórum das Primeiras Damas Africanas, a esposa do chefe do governo etíope, Roman Tesfaye, leu uma declaração da conferência, que entre outros, considera inadiável para que haja um maior empenho na disseminação da informação sobre a doença no continente.
O documento, conhecido por Declaração de Adis-Abeba Sobre o Cancro, foi assinado por 18 Primeiras Damas Africanas, incluindo a moçambicana, Isaura Nyusi.
Por outro lado, defendeu o uso crescente de tecnologias na prevenção do cancro e na promoção e desenvolvimento de programas de erradicação da enfermidade, através da alocação de fundos e extensão de redes sanitárias em África.
Para a materialização destas acções, Roman Tesfaye voltou a desafiar as suas congéneres africanas para fazer com que os serviços sanitários sejam uma realidade, dando acesso aos necessitados. 
Disse que não pode haver mudanças em África se o cancro continuar a ceifar vidas, frisando para a necessidade de os africanos renovarem energias nas suas campanhas nacionais, com vista a garantir que a doença não mine o crescimento do continente.
Pediu ainda a comunicação social a garantir que a luta contra o cancro seja um sucesso no continente. Disse que todos os africanos deverão conhecer os sinais e sintomas do cancro, para assim poderem precaver-se da doença. 
Para Oliver Bogler, vice-presidente dos “Programas Globais Académicos” (GAP), dos Estados Unidos, o cancro é um problema da actualidade que exige a toda a comunidade internacional sua liderança, como ao que até aqui as Primeiras Damas Africanas têm vindo a fazer, nos últimos 10 anos.
Bogler, um sobrevivente do cancro, apontou como sendo urgente uma estreita cooperação entre instituições e países de todo o mundo, sublinhando que o cancro não tem fronteiras, idade ou sexo. 
Por seu turno, a Directora-Geral do Fórum das Primeiras Damas de África e co-fundadora da Fundação do Cancro, uma organização nigeriana de combate à doença, Princesa Nikky Onyeri, anunciou que para se travar a doença, todos os países africanos deverão, nos próximos dois anos, dispor da vacina HPV e cuidados paliativos, não apenas nos centros urbanos, mas também nas zonas mais recônditas do continente.
Onyeri disse que o cancro não pode continuar a ser uma sentença de morte nos países africanos, desafiando a África para redobrar ainda mais os seus esforços com vista a salvar milhares de vidas. 
Sublinhou que esta não é apenas a tarefa das Primeiras Damas ou dos governos, mas é todos os africanos, sobretudo o sector privado, de participar em campanhas de combate à enfermidade e da angariação de fundos e de treinamento do pessoal sanitário. 
África, de acordo Onyeri, “deve envidar mais esforços para que, nos próximos anos, tenha capacidades de equipar os sistemas sanitários, com vista a controlar o cancro”.
O mundo, particularmente a África, está a passar por fases de crescimento da população e aumento de doenças incomunicáveis, como o cancro e infecções a si relacionadas, que em parte se relacionam com o consumo do tabaco e do álcool, em países de renda baixa, como Moçambique.
Na região da África Sub-Sahariana, 448 mil mulheres morrem anualmente do cancro da mama e do útero, num universo de 628.000 novos casos. Se nada for feito para travar o problema, haverá mais incidência da doença no continente ao ano até 2030. 
Contudo, a Agência de Energia Atómica comprometeu-se a transferir tecnologia para os países africanos, nos próximos anos, com vista a permitir que os doentes de cancro tenham acesso ao tratamento de quimioterapia. 
Segundo a publicação “Factsheet” de 2015, da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de oito milhões de pessoas morrem anualmente em todo o mundo vítimas de cancro e de complicações a si relacionado.
Esta cifra é considerada superior do que o número de mortes globais causadas por malária, tuberculose e doenças relacionadas com o HIV/ SIDA.
Embora as taxas do cancro do colo do útero em África sejam consideradas baixas, os encargos sociais e económicos causados por esta doença são um outro factor que apoquenta o continente. A falta de acesso a unidades sanitárias é um outro problema que se associa ao tratamento da doença quase que proibitivo em países africanos, incluindo Moçambique.
Outro aspecto que sufoca a África é a inexistência de serviços de roteiro e de detecção prévia de casos de cancro e conhecimentos limitados dos seus primeiros sinais e sintomas. 
O cancro do colo do útero é o segundo mais comum no mundo, registando uma incidência de cerca de 500 mil novos casos e 275 mil mortes anuais. Pelo menos 85 por cento de mulheres morrem desta doença em países em vias de desenvolvimento.
Embora, actualmente, este tipo de cancro seja possível preveni-lo, graças à vacina HPV, milhares de mulheres em África continuam a não ter acesso a diagnóstico prévio, tratamento e cuidado paliativo, devido a falta de recursos e infra-estruturas em várias partes do continente.
Pelo menos 14 milhões de novos casos anuais de cancro, a ser diagnosticados em vários países do mundo, esperam aumentar para 70 por cento, nas próximas duas décadas.
(AIM)