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Epilepsía uma das causas da desnutrição no país

14/09/2016 08:37
Epilepsía uma das causas da desnutrição no país

O Ministério de Saúde (MISAU) lançou segunda-feira, na cidade de Nampula, capital da província homónima no norte de Moçambique, uma campanha nacional de diagnóstico e tratamento massivo da epilepsia. A campanha está inserida no Programa de Redução da Lacunas de Tratamento de Epilepsia (2014-2018).

Segundo a ministra de Saúde Nazira Abdula, o lançamento desta campanha em Moçambique representa um marco para a redução do impacto deste problema de saúde pública, bem como para o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável.
Deplorou o facto de muitos doentes com epilepsia não se deslocarem às unidades sanitárias para receberem assistência médica, devido aos mitos que rodeiam a doença.
Eta situação é exacerbada pelo facto de muitas mães não cumprirem com o aleitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses de vida, porque os pais introduzem vários medicamentos tradicionais para, alegadamente, prevenir a “doença da lua”, o que muitas vezes provoca a desnutrição. 
“Muitas crianças não cumprem com o aleitamento materno nos primeiros seis meses, porque os pais dão medicamentos tradicionais supostamente para prevenir esta doença, colocando em risco a sua saúde e agravando o risco da desnutrição destas crianças”, disse Abdula.
A titular do pelouro da saúde em Moçambique explicou que a epilepsia não pode ser considerada como doença contagiosa e não é causada por feitiçaria, nem por espíritos como muitas pessoas acreditam.
“Muitas crianças que sofrem desta doença são descriminadas, pois existe o medo da contaminação, porque muita gente ainda acredita que a doença pode ser transmitida de uma pessoa para outra”, lamentou a fonte.
Aquela responsável disse que foi ciente destes problemas e, com o objectivo de desenvolver um tratamento modelo e de baixo custo, que o MISAU, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), elaborou o no Programa de Redução da Lacunas de Tratamento de Epilepsia (2014-2018).
O programa é desenvolvido através do Departamento de Saúde Mental e foi denominado simplesmente por “Programa de Luta Contra a Epilepsia”. O mesmo está a ser desenvolvido em 16 distritos e 14 unidades sanitárias do país, nas províncias de Niassa, Nampula, Zambézia, Sofala e Gaza com resultados muito animadores.
Como exemplo, Abdula disse que no ano passado foram atendidas 12.655 pessoas nas províncias abrangidas, e nos primeiros seis meses do ano em curso, foram atendidas cerca de 11 mil pessoas. 
O programa prevê cobrir perto de dois milhões de pessoas nas províncias referidas, das quais 573 mil na Zambézia. 
“Neste momento o programa está em fase de expansão para as restantes províncias do nosso país, sendo importante o envolvimento de todos”, disse a ministra, para de seguida acrescentar “esperamos que até ao final do ano, a totalidade das pessoas diagnosticados com esta doença estejam a receber assistência médica”. 
Referiu que a principal mensagem durante a campanha é que a epilepsia tem tratamento e cura. Mas, para o efeito, é preciso procurar serviços de saúde e tratamento especializado nas unidades sanitárias do sistema nacional de saúde.
Lídia Gouveia, médica psiquiatra e chefe do Programa de Saúde Mental no MISAU, disse que a epilepsia constitui uma grande preocupação para a saúde, porque ela ocupa primeira posição em termos de consultas externas, comparativamente a outras doenças mentais.
“Em termos de atendimento ambulatório nós temos as consultas de epilepsia que representam mais de 60 por cento da nossa carga de consultas anuais, comparativamente a outras enfermidades mentais”, disse a fonte.
Disse ainda que Moçambique apresenta uma taxa de três por cento, razão pela qual o país consta da lista dos países com índices elevados da doença.
“A nossa prevalência é muito alta, se tivermos em conta que a prevalência da epilepsia aceitável no mundo é de 0,5 a um por cento nos países desenvolvidos”, disse. 
Em Moçambique, é a primeira causa de procura nos serviços psiquiátricos e nas consultas neurológicas.
A epilepsia é uma doença do sistema nervoso central onde ocorrem intensas descargas eléctricas que não podem ser controladas pela própria pessoa, causando sintomas como movimentos descontrolados do corpo e mordida da língua, por exemplo.
Esta doença neurológica não tem cura, mas pode ser controlada com os medicamentos indicados pelo neurologista. Na maioria dos casos, quem tem epilepsia pode ter uma vida normal, porém deverá realizar o tratamento por toda a vida para evitar as crises.
As possíveis causas da doença são as complicações durante o parto, infecções cerebrais: meningite, encefalite, malária cerebral, tuberculose, HIV/SIDA e sífilis, trombose, entre várias outras.
(AIM)